ATUALIZANDO DANTE


Penso que não deveríamos confundir serenidade e lucidez com uso recatado e elegante do vernáculo.

Dum modo geral, uma pessoa com a boca suja, que pouca pelota dá para a imagem que fazem de sua figura, é muitíssimo mais sincera e humana – e, por isso, mais digna de credibilidade - que pessoas artificiais e sebosas que ficam esforçam-se para dar a impressão de apolínea isenção, simulando urbanidade, cuidando zelosamente da etiqueta para, assim, tentar agradar tanto a gregos como a troianos para, ao final, é claro, tirar alguma vantagem, mesmo que isso signifique jogar na lata de lixo o apreço e o amor pela verdade.

Enfim, se Dante vivesse hoje entre nós, provavelmente em sua Divina Comédia, ele descreveria parte do caminho para o inferno com sendo uma estrada pavimentada por empreiteiras infernais com os crânios de gente dissimulada e afetada, e diria que o trono do cão seria forrado e ornado com a pele e com os ossos dos isentões de plantão.

Ops! Espere aí. Parece-me que ele disse isso, porém, com outros termos, pois ele é Alighieri, e não um reles bebedor de café incurável como este que agora vos escreve.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela,
em 11 de novembro de 2019.

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