PROVA DE AMOR COMO ESSA NÃO HÁ
Todo ano celebramos a Santa
Páscoa. Entra ano, sai ano, todos nós, cada um ao seu modo, dentro dos limites
que nos são apresentados e ensinados pela tradição, procuramos vivenciar o
significado dessa data toda especial. A dada que marca a ressureição de Nosso
Senhor Jesus Cristo.
O que agora escrevinho não é novidade
alguma. Aliás, não tenho o intento de, com estas linhas, apresentar uma
novidade. Quero apenas compartilhar algumas meditações solitárias sobre essa
obviedade ululante.
Cristo ressuscitou ao terceiro
dia. O Filho do homem venceu a morte e abriu as portas dos céus para cada um de
nós, porém, para poder fazer isso, o preço pago por Nosso Senhor foi
elevadíssimo. Como foi.
Foi elevado porque sermos uns
jaguaras sem vergonhas. Não nos tocamos que nossa liberdade foi comparada com o
sangue preciosíssimo da segunda pessoa da Trindade Santa.
Não apenas não nos tocamos, mas
também não queremos saber do assumo.
Se fôssemos pensar numa imagem
análoga ao gesto amoroso que se faz presente no centro da celebração Pascal, o
que Deus fez por nós seria algo similar a, por exemplo, um homem que entrega
seu filho para ser devorado por aves de rapina para poder salvar um vermezinho
desprezível que ele quer salvar, porque ele o ama.
Essa imagem é ruim? Não. Ela é
precisa e bem demonstra o que o Santo Padre Pio de Pietrelcina quis dizer
quando nos lembra que as almas não sabem o quanto a salvação delas, o quanto
que nossa salvação, custou e, principalmente, o quanto que somos ingratos.
A incompreensão que é fomentada
em nosso coração frente à imagem desse descomunal gesto de amor revela o quão
soberbo é o nosso modernoso coração, o quão incapaz nós somos de realmente amar
a Deus e aos nossos irmãos.
E, assim o é, porque atualmente,
permeia praticamente toda nossa cultura, uma imagem mutilada do que é o amor, reduzido
ao mero uso [mútuo] das pessoas para satisfação de seus desejos e impulsos
libidinosos, desnudados de qualquer compromisso que ouse se prolongar para além
dum momento efêmero animado por um punhadinho de gozos fugidios.
Se prestarmos a devida atenção a
tudo que hoje, dum modo geral, aponta para uma relação amorosa iremos,
infelizmente, concluir que o amar não mais é compreendido como sendo o
sacrifício gracioso pela realização do bem amado, mas sim, como sendo uma mera
busca por satisfação, utilizando-se do outro para saciar os seus desejos
egoísticos.
Numa sociedade permeada por uma
visão tão distorcida do amor, tornou-se praticamente inevitável que o
sacrificar-se pelo bem de quem se diz amar não mais seja compreendido como
sendo a realização plena do ser humano, mas sim, um obstáculo para o que se
convencionou chamar de amor.
Não é à toa que não são poucas as
pessoas que esperam, sempre, que os outros se sacrifiquem graciosamente por
elas, para realizar todos os seus quereres e desejos.
Também, não por menos que, muitas
pessoas criticamente críticas, quando ouvem algo que evoque a imagem do
sacrifício amoroso, mais do que depressa vejam nisso apenas poder e dominação,
pois, onde a semente do amor não floresce, cresce viçosamente a erva daninha do
egoísmo e do hedonismo, fantasiados progressismo e libertação.
Enfim, sem querer querendo,
acabamos por negar amor por não mais compreendermos o quão belo e bom é
sacrificarmo-nos, graciosamente, para a realização do bem daqueles que amamos
e, se não mais compreendemos isso, se não reconhecemos o valor desse tesouro,
também, sem querer querendo, acabamos por fechar as portas de nossa alma para a
salvação que nos foi propiciada pelo amoroso sacrifício que foi realizado por Nosso
Senhor Jesus Cristo no algo do madeiro da Santa Cruz.
Agora bebamos, com quem amamos,
uma xícara de café.
Escrevinhado por
Dartagnan da Silva Zanela, em 28 de março de 2019. Natalício do historiador
Alexandre Herculano e do escritor Mario Vargas Llosa.
Comentários
Postar um comentário