DUAS IMAGENS, DUAS PALAVRAS
Imagino que, nunca antes na história contemporânea, uma
semana santa se apresentou de forma tão clara aos olhos do mundo; tão límpida
para o temor e tremor das almas dos fiéis, sejam eles quentes, frios ou
amornados.
A semana santa, como todos bem sabemos, praticamente iniciou
com o incêndio da Catedral de Notre-Dame de Paris e, culminou com o massacre
ocorrido durante a vigília Pascal no Sri lanka que ceifou a vida de mais de
200 cristãos.
Devido a esses dois acontecimentos, adornados por outros
mais, que não mencionaremos nessa escrevinhada, essa semana foi duma clareza
absoluta para toda a Cristandade, revelando, aos olhos de todos, quão
hostil o mundo moderno é ao Cristianismo.
Digo isso não apenas pelos fatos em si, mas também pela
forma como inúmeras pessoas reagiram aos dois acontecimentos. Alguns com
indiferença, outros com sarcasmo e, é claro, inúmeros com lamentos
dissimulados.
Ao testemunhar tudo isso, lembrei-me duma passagem que certa
feita fora escrita pelo teólogo Urs von Balthasar, onde o mesmo nos chamava – e
chama - a atenção para o versículo onde encontrar-se-ia a centralidade da vida
de todo e qualquer cristão. Dizia ele que deveríamos meditar com muito mais
seriedade sobre o que Nosso Senhor quis nos dizer quando declarava que Ele nos
enviaria como cordeiros no meio de lobos (Lucas X; 3).
E assim estamos; e assim sempre estaremos.
Obviedade das obviedades; sei que o que estou dizendo é a
mais patente obviedade, mas, como nos lembra G. K. Chesterton, vivemos num
tempo em que as obviedades mais gritantes devem ser lembradas e, mesmo assim, isso
não significa que elas serão compreendidas.
E a grande verdade é que perdemos o elã cristão que deveria animar
a nossa alma.
Não são poucos os que imaginam que ser cristão seria sinônimo
de ser uma espécie de sujeito bonzinho, politicamente correto, certinho, que
passa a mão na cabeça de tudo o que não presta para não acabar ficando mal na
fita.
Não são poucos os cristãos que maquiam sua fé em Cristo para
não ofender o mundanismo reinante; que clamam muito mais pela aprovação e pelo
afeto dum mundo corrompido até o tutano do que por dar testemunho perante
todos de seu amor a Deus.
Amornamo-nos e nem nos damos conta disso. Acabamos nos
reduzindo a meros cristãos de nome, por convenção e formalidade social, não por conversão.
Não mais desejamos amar a Cristo como nos testemunharam todos os santos e santas, mártires e confessores, que procuraram amoldar as suas vidas de acordos com os ensinamentos presentes nos Evangelhos.
Não mais desejamos amar a Cristo como nos testemunharam todos os santos e santas, mártires e confessores, que procuraram amoldar as suas vidas de acordos com os ensinamentos presentes nos Evangelhos.
Esquecemos, por covardia e comodismo espiritual, que o mundo
não irá nos aplaudir por esforçarmo-nos em seguir Aquele que é o Caminho, a
Verdade e a Vida. Esquecemos e, ao que parece, não fazermos mais muita questão
de lembrar.
Pois é. Essa semana santa que findou está nos lembrando
dessas verdades, dessas obviedades ululantes: que o mundo não nos ama da mesma
forma que nunca amou, e nunca amará, Nosso Senhor; e que somos pusilânimes amornados que
estufam o peito para defender qualquer tranqueira, mas que nos acadelamos quando o
assunto é a Verdade que se faz carne para nos redimir de nossa decaída condição
humana.
Enfim, é isso. E, considerando o que fora dito acima, hoje não haverá
café.
Escrevinhado
por Dartagnan da Silva Zanela, em 22 de abril de 2019.
Chegada das naus
Portuguesas na Terra de Vera Cruz.
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