INTOLERANTEMENTE TOLERANTE
“Posso não concordar com nenhuma
das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de
dizê-las”. Esse dito, simples e elegante, atribuído a Voltaire, é a máxima que
melhor representa o que seja a tal da tolerância.
Hoje, pra todas as direções que
voltamos nossos olhos, vemos pessoas falando em tolerância, reivindicando-a
como sendo o mais elevado dos valores que poderia ser cultivado por nós. Porém,
tal quadro, revela aos nossos olhos, de cara, dois problemas bem simples.
Primeiro: nem tudo aquilo que
seja dito e defendido por alguém – e às vezes por nós mesmos – é algo que seja
tolerável.
Aliás, como bem nos lembra
Umberto Eco, em seu livro “Cinco escritos morais”, a noção de tolerância não
tem sentido algum se nós esquecemo-nos que existem inúmeras coisas que são
intoleráveis.
Segundo: ser tolerante não é, de
modo algum, obrigar o outro a acatar, sem reinar ou gemer, as ideias e
pontos de vista de outrem. Muito pelo contrário. Agir de modo tolerante, significa, como o
aforismo volteriano nos indica, que devemos respeitar e defender o direito que
todos têm de defender uma e outra ideia estúpida, o que não significa que sejamos
obrigados a acatá-la e aplaudi-la.
Diante disso, basta que voltemos
nossos olhos para os autoproclamados porta-vozes da tolerância nos dias de hoje
para compreendermos quão intolerantes e tirânicos eles são com qualquer um que
ouse dizer que não concorda com eles.
Para estes, tolerância seria tão
somente a concordância canina com as ideias paridas pela sua concepção de mundo
e, por isso, qualquer discordância para com suas ideias e ideais é vista como sendo uma manifestação intolerável de um “discurso de ódio”.
Enfim, se não mais sabemos distinguir o tolerável do intolerável, se confundimos tolerância com relaxamento ad infinitum de todos critérios morais e cognitivos, é porque já estamos há muito tempo imersos em um crítico lupanar (depre)cívico.
Escrevinhado por Dartagnan
da Silva Zanela, em 04 de abril de 2019.
Dia de Santo Ambrósio.
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