A CORROSÃO DA LIBERDADE
Quanto
mais falamos dos tais direitos, dos nossos sacrossantos direitos, mais nos
acanalhamos.
E
nos acanalhamos por uma razão muito simples: porque nós não nos cansamos de cultivar
a crença de que alguém deve, necessariamente, acudir por algo que seria de
nossa inteira responsabilidade.
Sabe-se
lá por quais cargas d’água nós passamos a esperar que alguém faça esse algo por
nós, mas o fato é que passamos a achar isso tão normal quanto bonitinho.
E,
é claro, que esperamos que esse algo seja feito com toda a deferência do mundo,
porque a gente merece. Não sei por quê, mas a gente acredita nisso.
Não
estou afirmando com esse dito que não deveríamos ter direitos. Não. O enrosco é
doutra ordem.
O
que digo é que colocar tal prerrogativa como sendo o centro de nossa vida, e o
coração de nossas preocupações cívicas, seria algo que poderia colaborar
significativamente para o nosso desfibramento moral, nos tornando débeis e
dependentes da ação daqueles que se encastelam em torno e dentro das entranhas do
Estadossauro.
Resumindo
o entrevero, lembremos que um direito seria apenas uma obrigação que um
terceiro teria para conosco.
Por
isso e nesse sentido, quanto mais direitos nós temos e queremos, mais somos
reduzidos à condição pueril, de dependentes manhosos do beneplácito de outrem.
Ah!
Já estava me esquecendo. Para tentar evitar que as obrigações não sejam
cumpridas, o Estadossauro sempre cria, para “o bem e proteção de todos”,
inúmeros mecanismos burocráticos para “garantir” que nossos direitos sejam supridos,
ou para fingir que o são.
Procedendo
assim, este, o Estadossauro, diminui a nossa liberdade de ser e agir, de modo
rápido e eficaz; e, o monstrengo frio faz tudo isso com os nossos (depre)cívicos
aplausos.
Enfim
e por fim, não preciso nem dizer quem é que sai ganhando com essa história
toda, não é mesmo? Que bom. Então paremos por aqui com essa prosa e tomemos um
bom café.
Escrevinhado por
Dartagnan da Silva Zanela, em 15 de abril de 2019.
Natalício de Leonardo Da
Vinvi e de Émile Durkheim.
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