SOB O INDECOROSO OLHAR DE SAURON
Karl Deutsch, em seu livro
“Politica y Gobierno”, nos ensina de modo simples e didático que, para
compreendermos as decisões que dão forma ao fenômeno político, nós devemos
procurar identificar o que é considerado valioso pelas pessoas. Identificar o
que as classes governantes indicam como valioso, o que as classes falantes
dizem que o é e, é claro, o que nós, reles mortais, consideramos como sendo o
precioso nosso de cada dia.
Para tanto é imprescindível que
sejamos capazes de dizer para nós mesmos que, gostemos ou não, pode haver um
canalha em nosso íntimo a ditar o que é e o que não é precioso.
Infelizmente, esse quesito, o da
canalhice, está mui bem democratizado nessas terras de Pindorama.
Quando uma questão, que poderá
afetar o destino de todos em médio e longo prazo, entra nas rodas de conversas,
em regra, vemos um festival de grupos corporativos, das mais variadas estirpes,
colocando os seus interesses – os seus bens preciosos – não apenas acima do bem
comum e da integridade das futuras gerações. Vemos, sim, esses mesmos
indivíduos apresentarem as suas particularíssimas preocupações como se fosse o
interesse geral da nação e, inclusive, daqueles cidadãos que ainda estão por
nascer.
Canalhice das canalhices, tudo é
canalhice quando o assunto é tentarmos entender que estamos dentro da mesma nau
e que, se não tomarmos uma atitude [dolorosa] iremos todos naufragar.
Quer dizer, nós iremos naufragar.
As raposas felpudas que se locupletam nos tributos de nosso suor, nem tanto,
aja vista que essas figuras sabem muito bem parasitar os nossos desejos de
comodidade para garantir os seus privilégios obscenos.
Não há dúvida alguma que existem
em nosso país inúmeros cidadãos que sabem muito bom distinguir o que é do
interesse público e o que seria simplesmente do seu interesse pessoal, grupal
ou corporativo. Graças ao bom Deus.
Porém, para infelicidade geral da
nação, não são poucos, aqueles que insistem em confundir uma coisa com a outra.
Pior! Muitas vezes fazem essa inversão de caso maliciosamente pensado. Noutras
tantas o fazem por puro automatismo criticamente crítico, digo, alienante.
Enfim, seja como for, identificar
em nosso coração o Gollum que nos habita e, principalmente, o “precioso” que
ele tanto almeja, é uma das metas mais urgentes que devemos encarar para não
acabarmos nos convertendo num mero objeto de manipulação nas dissimuladas e
invisíveis mãos dum Sauron [fisiológico ou revolucionário] qualquer.
Fim. Hora do café.
Escrevinhado por
Dartagnan da Silva Zanela, 25 de março de 2019.
Natalício de Santa Catarina de Siena e de Eusébio de Queirós.
Natalício de Santa Catarina de Siena e de Eusébio de Queirós.
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