REFLEXÕES CONSERVADORAS # 02



Platão nos ensina que há uma ordem inerente aos elementos externos à alma humana e um ordenamento interno próprio da mesma e que, ao seu modo, uma e outra se encontram relacionadas. Confúcio, de modo similar, não igual, diz-nos o mesmo.

Tal indicação nos chama a atenção para o fato da existência duma possível ordem moral universal, ordem essa que teria suas raízes plantadas no coração humano e que seus ramos e frutos estariam espalhados pela sociedade que os recebe, nutrindo o solo da vida em sociedade e que, por sua deixa, realimentam os corações de outras gerações.

Trocando em miúdos, a lei moral encontra-se inscrita no coração dos homens e a mesma, floresce e dá frutos quando a sociedade estabelece instituições sociais que estimulem o seu cultivo. Estas, as instituições sociais, seriam as leis, os sistemas de instrução e educação, a música, os monumentos, as artes dum modo geral, a reverência aos antepassados valorosos e tutti quanti.

Se essas instituições se encontram em estado de degradação, isso não significa que a lei moral, inscrita em nossos corações, desaparecerá. Não vejo isso como algo provável. Porém, sinaliza que a mesma será envolta de sombras e que, por consequência, os frutos tornar-se-ão minguados e a desordem exterior minará a ordem da alma e vice-versa, num fáustico ciclo corruptor.


Para que isso ocorra, basta que não mais se reconheça a existência dessa ordem perene, que se negue a presença da referida lei no coração dos indivíduos, relativizando todos os valores e, consequentemente, a realidade e bem como a integridade da pessoa humana.

Ao fazer isso, como nos ensina Russell Kirk, homens e mulheres ficam à deriva, por não mais terem uma clara referência externa que os instrua a utilizar a bússola que está em seu coração e, não é à toa, que estes acabam se guiando tortuosamente através da procura por elementos que atendam os seus apetites mais rasteiros.

Sim, sei que muitos, com toda boa vontade do mundo, podem argumentar que essa “historieta” de lei moral é algo que não tem nem pé nem cabeça, tendo em vista que existem numerosos códigos morais, manifesto nas mais variadas sociedades e, muitas vezes, dentro de uma mesma sociedade.

Compreendo e, de fato, este dado é inegável. Mas, procuremos dar um passo à diante. Na verdade, dois passos.

Primeiro: independente da quantidade de códigos de conduta que existam e das disparidades que possa haver entre eles, o fundamental é que as sociedades, todas elas, cultivam um código, um padrão para que seus membros possam balizar os seus atos e ordenar os seus apetites, desejos e inclinações.

Segundo: apesar de existir uma plêiade de códigos morais, cada qual com suas particularidades, há também, em todos eles, elementos comuns que indubitavelmente podem ser considerados universais. Por exemplo: todas as sociedades condenam a deslealdade entre pares, todas, sem exceção. Nenhuma sociedade idealiza a trairagem. Aliás, se o fizesse, se autodestruiriam.

Resumindo o entrevero, quando deixamos de reconhecer a existência de valores perenes e universais, relativizando tudo, nós não estamos de modo algum instaurando um reino de liberdade. Na verdade, quando procedemos desse modo, desprezando e desacreditando da sua existência nós estamos abrindo as portas para as mais tirânicas formas de arbitrariedade, para toda extirpe de totalitarismo, porque a ordem moral, por anteceder a ordem política, limita-a.

Esse é o grande problema presente na politização de tudo. Seria algo similar a jogar uma partida de futebol sem os limites do campo, sem as delimitações das regras e sem uma finalidade comum para os times contendores.

Por essas e outras que uma pessoa, com uma atitude conservadora, procura não mover seu pé em favor dos modismos relativistas. Esta reconhece, sim, que algumas mudanças são necessárias, mas estas não devem descuidar daquilo que é universal; ou seja, do sumo bem, pois, quando ignoramos isto, por soberba, acabamos por fazer de nossa vontade, desorientada, a substituta do bem supremo.

Enfim, aí estão todos os tiranos dos séculos XX e XXI que não nos deixam mentir sozinho. Eis aí a tragédia educacional brasileira que não nos deixa corar de vergonha sozinhos.

Fim. Hora do café.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela,
em 07 de março de 2019, dia de São Tomás de Aquino.
http://sites.google.com/view/zanela/

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