MUITO PELO CONTRÁRIO
Nos momentos em que a sociedade se encontra imersa em
uma grande confusão de sentimentos, penso que seja interessante refletirmos
sobre a forma como reagimos frente às imagens e notícias que nos são atiradas
nas ventas pela grande mídia e através das redes sociais.
Levanto essa questão não para apontarmos nosso dedinho
condenador. Nada disso. O que proponho por meio dessas minguadas linhas é uma
reflexão, um exame de consciência, se possível for, sobre a forma como reagimos
diante de algumas informações que, de um jeito ou de outro, são apresentadas
para nós.
Para evitar as fogueiras do momento, que ainda estão
com suas chamas ardendo noite e dia no pátio das vaidades, vamos recorrer a
dois acontecimentos que ganharam significativa repercussão noutro período da
história recente do nosso triste país.
Dito isso, vamos lá. Lembremos do caso do trans que
foi abraçado pelo médico Dráuzio Varella numa reportagem que foi exibida em
rede nacional, trans esse que havia sido condenado por ter violentado,
assassinado, ocultado o cadáver e despejado o corpo do garoto, depois de algum
tempo, num lote baldio próximo à casa da família do menino. Lembram-se disso?
Então, na ocasião muitas pessoas criticaram o gesto do senhor Dráuzio, de ter
abraçado o autor do crime que não mais recebia abraços de ninguém, ao mesmo
tempo que outros louvaram o gesto.
Aqueles que desaprovaram, de um modo geral, o fizeram
tendo em vista que a pessoa apresentada como uma pobre vítima do sistema
carcerário era, na verdade, um pedófilo e assassino cruel. Informação essa que
não apareceu na reportagem. Veio a público algum tempo depois através das redes
sociais.
Doutra parte, houveram aqueles que disseram que isso
não seria o ponto mais importante, mas sim, que o que importava realmente era
gesto feito pelo referido senhor ao trans que a muito não recebia nenhuma
visita, que havia sido esquecido na prisão.
Segundo caso: o da ministra Damares Alves. No começo
do governo Bolsonaro circulou pelas redes sociais e em alguns veículos de
impressa uma fala da referida ministra onde a mesma havia dito que teria visto
Jesus numa goiabeira num dado momento da sua infância. Lembram-se disso? Bem.
Muitos foram os gracejos sobre o caso. Muitos. Porém, passado um breve momento,
veio a público que o momento da sua infância em que, numa goiabeira, ela havia
visto o Cristo, era um momento em que ela pretendia pôr um fim na sua vida. Damares,
em sua infância, foi vítima de violência sexual.
Após essa informação ter vindo à tona, na época muitas
pessoas se compadeceram com a ministra, tendo em vista o pouco caso que
estava sendo feito com o sofrimento vivido por ela. Alguns se envergonharam por
terem achado graça, tendo em vista que conheciam apenas um cadinho da história.
No caso, só a parte da aparição de Cristo na goiabeira. E haviam aqueles que,
mesmo depois de terem ficado sabendo do contexto vivido pela menina Damares,
não manifestaram nenhum arrependimento pelos gracejos, nem procuraram externar
compaixão para com a senhora Damares Alves.
Reavivada essas imagens em nossa memória, podemos
perguntar a nós mesmos como reagimos frente a esses fatos na época em que eles
eram o centro da atenção midiática. Como, no calor das emoções, midiaticamente
fomentadas, nós reagimos? Não apenas isso. Como nós vemos hoje a nossa reação,
naquela época, frente aos referidos fatos?
Pergunto isso por uma razão muito simples: os meios de
comunicação de massa têm a capacidade de amplificar emoções pré-fabricadas a
partir da distorção de fatos reais mal contados que, por sua deixa, nos são
entregues a toque de caixa por ela própria. Ou, trocando em miúdos: muitas
vezes algo é noticiado não pensando na verdade dos fatos, mas calculando-se a
reação que pode ser fomentada frente a forma que isso ou aquilo é comunicado.
Nos dois casos citados, tínhamos um recorte prévio,
com uma ordenação formatada para que tivéssemos uma determinada reação em cada
um deles para que tivéssemos uma determinada primeira impressão. Entretanto,
nos dois casos, informações faltantes chegaram até nós através de canais
alternativos, quebrando com a narrativa original e aí, uns sentiram-se
indignados e, ao mesmo tempo, envergonhados; e isso, penso eu, é bom, porque
quando percebemos as contradições que estão presentes em algo, em nós, e na
forma como reagimos, é sinal de que nossa consciência moral está nos
aporrinhando, trabalhando para abrir os nossos olhos. É sinal de que ela não
congelou diante do escândalo.
Noutros casos, a reação foi diversa. Após receber as
informações faltantes, ao invés de escandalizar-se com a forma como a emoção
pré-fabricada foi-lhe entregue, e como reagiu a ela, algumas pessoas acabaram preferindo
assumir para si essas emoções como se elas fossem genuinamente suas e isso,
penso eu, não é nada bom. Não é porque seria um sinal de que nossa consciência
moral está amortecida, levando-nos a preferir a unicidade de uma emoção
pré-fabricada do que a verdade com suas contradições que nos foi revelada.
Essas pessoas congelaram frente ao escândalo e, por
isso, precisavam de algo que lhes desse segurança. No caso, a primeira
impressão midiaticamente calculada será esse elemento de estabilidade interna
provisória.
Bem, poderíamos dar inúmeros nomes para isso, porém, a
meu ver, o nome mais apropriado que se pode dar para esse trem é manipulação.
E reparem como, em nossa sociedade, muitas vezes, um
ato de manipulação é chamado de “conscientização”, ou de “tomada de
consciência”.
Bah! Quantas e quantas vezes nos sentimos
envergonhados frente a situações similares a essas, em que nos vemos
condicionados a emitir opiniões superficiais, carregadas de emoções
pré-formatadas, sobre acontecimentos recortados cinicamente para gerar
determinadas reações condicionantes. Não são poucas, infelizmente.
Quantas e quantas vezes sentimos que estamos sendo
feitos de bobo. Pior. Como é difícil admitirmos que podemos estar sendo
manipulados. Como é difícil. Mas não reconhecermos essa possibilidade não nos
torna imunes às inúmeras artimanhas globalistas que são maquinadas diariamente
contra nós e contra todos. Muito pelo contrário.
Enfim, seja como for, cada um sabe o que faz. Quer
dizer, ao menos imaginamos saber.
Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela.
Quaresma de São Miguel Arcanjo.
e-mail: dartagnanzanela@gmail.com
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