MUITO ALÉM DO GEMIDÃO DO ZAP
Na
semana que findou, numa quinta-feira, próximo do horário do sorteio do bife, enquanto
transitava com meu possante rumo ao meu rancho, comecei a ouvir um barulho pra
lá de esquisito. Ploc-ploc. Ploc-ploc. Ploc-ploc. Pensei: e o que pensei eu não
posso escrever.
Parei
a barca num estacionamento e, rapidamente, descobri a causa do barulhinho. Um parafuso,
um cerpelo de um parafuso entro no pneu do carro. Bem, como não estava longe da
borracharia, lá fomos nós solucionar a encrenca.
Chegando,
havia um senhor que estava, também, com um problema num dos pneus do seu veículo.
Até então, nunca o tinha visto na vida, nem mais gordo, muito menos mais magro.
Cumprimentei
o borracheiro e, é claro, o ilustre desconhecido mascarado.
Simpaticíssimo,
o estranho começou a puxar prosa comigo. Perguntou-me algumas coisas a respeito
da minha caranga, falou-me algumas outras sobre a sua barca, inclusive como ele
a adquiriu e, do nada, me perguntou: “e as políticas? Como estão as políticas?”
Ri um pouco e me coloquei a conversar um teco a respeito do pleito eleitoral
deste ano com o xiru.
Resolvido
o problema do redondinho do seu carro, o senhor se despediu e se empirulitou. Aí,
enquanto o borracheiro arrumava o pneu do meu carro, fiquei matutando sobre um
dito que as pessoas esclarecidas e diplomadas - muito mais diplomadas que
esclarecidas - gostam de dizer e não se cansam de repetir: que, no Brasil,
religião, política e futebol não se discute.
Bah!
Mas se tem um assunto que a turma gosta de assuntar é sobre a dita cuja da política.
Não com aquela voz empolada de gente diplomada metida a sabida, claro que não. Graças
a Deus. Mas gostam, como gostam de falar sobre as facetas e tretas desse angu
encaroçado.
E
isso não é de hoje não. Lembro-me claramente dos anos oitenta, da imagem dos
meus tios, do meu nono e do meu pai batendo papo, e às vezes batendo boca,
sobre política. Todos eles brizolistas roxos (risos). E entre uma e outra cuia
de chimarrão, servidas à sombra do arvoredo - junto da carroça do nono, toda
ornada com o nome do Leonel de Moura Brizola escrito com cal - eles passavam o
fim das tardes assuntando sobre os problemas políticos do Brasil, do Paraná e,
é claro, da cidade.
Hoje,
os tempos são outros, mas o costume é o mesmo, principalmente quando o ponto do
conto são os rumos dessas pequenas repúblicas que são os municípios do nosso
triste país.
Qualquer
roda de conversa que nos aproximemos, não se dá nem dois dedinhos de prosa e alguém,
sem pestanejar, já cola a perguntinha marota no ar: “e as políticas?”
E
a política segue, segue nos passos ditados pelos avanços tecnológicos. Além das
conversas ociosas que ocupam os fins de tarde, temos agora os grupos de whatsapp,
o facebook e demais tranqueiras desse feitio, onde as pessoas conversam sobre o
assunto que os sabidos dizem que ninguém gosta.
Bem,
noves fora zero, mesmo assuntando muito sobre isso, existe uma imensa
possibilidade de que tudo vá por água abaixo. Aliás, isso faz parte da vida e
não é o fim do mundo.
Perder,
ganhar, acertar, errar, cair, levantar, tudo isso, junto e misturado, faz parte
do babado e rende muito assunto nos círculos de prosa presenciais e remotos que,
por sua deixa, integram a nossa [de]formação cívica continuada.
Pena
que essa efervescência cívica diminui um tanto quando finda o pleito eleitoral.
Diminui, mas não acaba.
Na
verdade, penso que se pode aprimorar a bagaça com o auxílio das famigeradas
redes sociais que muitos membros da casta política querem calar. Querem calar
porque elas, as redes, pela primeira vez na história, deram voz e vez para aqueles
que não dispunham de meios para parlar e, por isso, permaneciam ilhados, isolados,
frente ao poder sufocante dos grandes, médios e pequenos grupos de mídia ligados
a um e outro cacique político.
Sim,
a galera diplomada de voz empolada enche a boca pra dizer que as redes sociais
deram voz aos idiotas. Não vejo assim. Penso que as mídias digitais arrancaram
o monopólio do direito a voz, e bem como a autoridade, que um pequeno grupo de
idiotas gozava quebrando, desse modo, as correntes que impediam a livre circulação
das informações, permitindo que cada
indivíduo possa ter, na palma de sua mão, o acesso a várias informações vindas
das mais variadas fontes para confronta-las umas com as outras e, desse modo,
poder construir uma compreensão mais sólida e alicerçada num terreno mais amplo
do que aquele que era e é ofertado pela mídia oficiosa.
Sim,
é claro que podemos nos enganar. Isso acontece quando estamos tentando nos
informar. Mas isso é muito melhor do que confiar cegamente em algo que monopolisticamente
diz querer nos informar quando, muitas vezes, quer tão só e simplesmente menosprezar
nossa inteligência.
Dito
doutra forma: quanto procuramos nos informar, livremente, a possibilidade de
nos enganarmos existe. É claro que sim. Porém, quando somos passivamente
informados por algo que arroga ter o monopólio da credibilidade é mais do que certo
que seremos enganados, manipulados feito papel higiênico após uma aplicação
retal de ozônio.
É
por isso que muitíssimos membros da casta política, de mãos dadas com a classe
falante da velha mídia, temem tanto os tios e as tias do zap e a molecada do
twitter. Essa gente não quer que o povão tenha canais para ecoar a sua voz.
Eles não querem que ninguém ouça o brado que até então era sufocado midiaticamente.
Não. Eles querem que todos acreditem que o tal do povo não gosta de política e
que, por isso, confiem plenamente neles, os políticos e seus apaniguados e
similares.
Abre
parêntese: não é à toa que a grande mídia, STF, Congresso Nacional e tutti quanti
estão de mãos dadas com o youtuber Felipe Velho para combater o baixo astral
que a liberdade de expressão provoca em seus corações. Fecha parêntese.
Enfim,
é isso. Fim de causo. Quer dizer, fim de prosa aqui, porque tenho certeza que ao
pé de um arvoredo, junto dum grupo qualquer do whatsapp, a conversa irá continuar,
só pra deixar as “otoridades” celeradas “p” da vida e com algumas pulgas atrás
da orelha.
Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela
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Essa
iniciativa tem o apoio cultural de XerinhoBão – difusores, home spray, águas de
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e-mail: dartagnanzanela@gmail.com
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