O OLHAR TRISTE DO MENINO



Li muitos artigos e matérias; vi um tantão de vídeos informativos e de opinião e, confesso, ainda não consigo escrever uma linha sequer a respeito da tragédia sofrida pelo menino Rhuan.

Creio que tenho algo a dizer a respeito, e que isso seja algo realmente importante, mas, confesso: não consigo.

Travo quando penso em fazê-lo.

Toda vez que clico num link duma matéria que apresenta estampada uma fotografia do garotinho, ao lado da efígie das cretinas, a mirar-me com seus olhinhos diretamente nas janelas de minha alma, com aquele semblante de tristeza ressequida, eu paraliso; paro, fico estático por um segundo e engulo a seco um grito de desespero.

Então, respiro fundo e sigo em frente; leio o artigo e, na sequência, me calo; calo no íntimo de meu ser, tamanha a tristeza que me é despertada por aquele inocente olhar tomado por anos dum terror silente que fora findado de forma ignóbil diante dos olhos midiáticos do mundo inteiro; diante dos nossos olhos como se fosse apenas mais uma obra terrificante de Stephen King.

Enfim, um dia desses, quando todos tiverem esquecido o ocorrido, quando a memória coletiva não mais lembrar o nome do sofrimento na forma dum pobre infante, talvez eu escreva tudo o que penso e sinto a respeito do que hoje testemunho. Talvez. Talvez um dia eu faça isso.

No momento, com um baita aperto no peito, apenas me calo, mordendo meus lábios, porque não sei exatamente o que dizer.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela,
17 de junho de 2019.



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