O CALAR DOS SINOS
A procura pelo silêncio é uma
jornada longa e cansativa, especialmente num mundo como o nosso onde o alarido
e a balburdia são tidos, mesmo que veladamente, como sendo uma espécie de regra
[travessa] de convívio.
O silêncio é o refúgio que a alma
humana necessita para não acabar sendo devorada pela insanidade das multidões
e, também, para não ser mutilada pela demência que habita o coração de cada um
de nós.
Sem a presença do cultivo de prolongados
momentos silentes, tudo a nossa volta acaba tornando-se incompreensível, até
mesmo e, principalmente, a palavra acaba tornam-se estéril e não mais é capaz
de infundir em nossa alma a luz da verdade que, por sua deixa, é imprescindível
para compreendermos a realidade da vida; para apreendermos o que ela é e assim
sabermos vive-la com um mínimo de sabedoria.
Uma época onde as portas da alma
veem-se fechadas ao sussurrar do silêncio, silêncio este que ninguém mais quer
ouvir, é um mundo onde as amizades perdem a sua razão de ser, o propósito de sua
existência.
Não é à toa que, por ignorarmos a
importância dos momentos em que deveríamos mergulhar no deserto da solidão e do
silêncio, acabamos por tornar nossas vidas vazias e estéreis.
Se não contrabalançamos o caos da
vida moderna, que tanto invade a nossa alma e dela procura se tornar senhor,
com a ordem e a serenidade que nos é propiciado pelo distanciamento silente da agitação
da vida cotidiana, acabamos, sem querer querendo, tornando-nos pessoas ocas que
vivem vidas rotas aprisionados numa inquietante bolha.
Bolha esta que pode ser estourada
com um simples calar. Basta silenciar os lábios, aquietar a alma e ouvir o que
frequentemente ignoramos. O silêncio.
Dartagnan da Silva
Zanela,
21 de maio de 2019.
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