O FIM DA LONGA MARCHA



Ser simplesmente do contra não é sinônimo, de jeito maneira, de que estamos nos tornando pessoas mais esclarecidas. Pelo contrário, há uma grande probabilidade de que estejamos, sim, limitando drasticamente nossa capacidade de entendimento.

Em regra, infelizmente, quanto mais crítico o sujeito julga-se ser, mais severa é a limitação que ele acaba impondo a sua compreensão dos fatos que brotam da realidade.

Vejamos um exemplo. Recentemente o atual ministro da educação afirmou, sem meias palavras, que a política de promoção do ensino superior dos governos anteriores foi uma tragédia porque (i) os cursos de graduação foram inflados, (ii) deixando o mercado saturado com pessoas diplomadas e, (iii) boa parte dessas pessoas além de não conseguirem ingressar na carreira profissional almejada, (iv) já encontram-se endividadas. Muitas delas, inclusive, estão com o nome sujo e sem muitas perspectivas.

E pior! Esse erro torna-se mais grave pelo fato de que grande parte dos recursos foram voltados para o ensino superior, relegando ao ensino fundamental e médio uma atenção diminuta e, também, aplicando-lhe políticas, no mínimo, equivocadas.

Sobre esse ponto, no início da década de noventa do século passado, isso era indicado pelo finado Miguel Reale, como sendo um dos graves erros de nosso (des)entendimento sobre a forma como deveríamos ordenar nossos esforços na seara da educação.

Segundo ele, nos orgulhamos quando nossa cidade possui uma ou mais instituições de ensino superior, mas não nos preocupamos se a mesma tem instituições de educação básica de qualidade e, se as tivermos, tais não são motivo de júbilo.

O que pensar sobre isso? Tais linhas não são uma mera opinião dum bebedor de café. Imagino que não. Elas refletem, à sua maneira, uma realidade patente, infelizmente.

Gostemos ou não, hoje nós nos encontramos numa encruzilhada que foi sendo lentamente construída no correr de décadas.

Os dados aí estão e não temos como negá-los.

Somos, hoje, uma nação com uma grande massa de analfabetos funcionais diplomados, soberbos de sua ignorância e, obviamente, orgulhosos de seus diplomas.

E tem outra: há um detalhe que o senhor Ministro não apontou. Em breve estaremos sendo atendidos e governados por esses diplomados. Quer dizer, já estamos, e já faz um bom tempo.

E agora, quem poderá nos defender? Quem poderá se defender? Pois é. Creio que já estamos chegando ao fim dessa longa marcha para o brejo. E que brejo, diga-se de varagem. Que brejo.

Dartagnan da Silva Zanela,
13 de maio de 2019.



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