A AVACALHAÇÃO GERAL
Há,
entre nós, uma grande confusão entre o que seria educar e o que seriam meros
atos de bajulação.
Tal
impostura é - sem nada por, sem nada tirar – um dos maiores cancros que enferma
a educação brasileira e, por conseguinte, envenena a nossa alma, desfibrando o
caráter de todos nós que estamos incumbidos de formar as gerações mais tenras e,
inevitavelmente, acanalhando aqueles que, um dia, serão o futuro de nossa
triste nação.
Para
tornar mais compreensível o tom lúgubre dessa cantilena que assombra o nosso
país, permitam-me apontar uma frase que, em regra, tornou-se um dos mantras
sulfurosos que corroem toda e qualquer possibilidade de ensinação.
Não
foi uma, nem duas vezes, que ouvi doutos em educação, com seus títulos,
diplomas e paetês, afirmarem que uma boa educação é aquela que não quer apenas
depositar informações na cumbuca do aluno, mas sim, aquela que valoriza o que
ele sabe, respeitando os seus conhecimentos e trelelê.
Todos
nós – imagino eu - já ouvimos isso e, convenhamos, o dito é bem bonitinho, mas
profundamente ordinário, porque sinaliza frontalmente a confusão que se
instaurou em nosso país entre o que seja educar e o que acaba sendo uma reles e
vil adulação.
E
digo isso não por leviandade, apesar de ser incorrigivelmente leviano, mas por
duas razões que a mim parecem mais do que patentes.
Uma
delas é a promiscua massagem que acaba sendo inscrita no coração dos mancebos.
Isso mesmo! Quando se diz que o bom ensinador é aquele que valoriza o que o
aluno supostamente já sabe, e não aquele que ousa corrigir os infantes e
dizer-lhes que aquilo está errado e que ele deveria ampliar o seu horizonte de
entendimento, está-se insuflando na alma juvenil uma bagual duma dose de
soberba.
Parêntese:
não estou dizendo que o que o infante já sabe não tenha valor, mas sim, que ele
precisa, como todos nós, estar aberto para aprender muito mais. Fecha
parêntese.
Corrigir,
hoje em dia, não pode; tornou-se feio, logo, querer ensinar virou pecado e
negar-se ao aprendizado uma virtude.
Outro
detalhe que me parece extremamente relevante é o seguinte: se ficamos repetindo
para o pequeno que ele já seria detentor duma suposta “sabedoria infusa”,
porque ele deveria valorar aquilo que seria ministrado por outra pessoa que tem
o despeite de querer corrigi-la?
Sem
querer querendo, com esse tipo de postura, o que tivemos, com o passar do
tempo, foi uma desvalorização do papel primeiro duma instituição de ensino e a
depreciação daqueles que tem em seus ombros a responsabilidade de ensinar.
Tamanha
foi a sedimentação causada por esse tipo de confusão que, literalmente, poucos
- pouquíssimos, penso eu - se flagram desse problema que é uma das pedras
angulares que avacalham com o nosso sistema educacional.
Diante
disso, há uma perguntinha que não quer calar: quem sai ganhando com essa
bajulação sistematizada? Quem? Não é a criança, nem os pais e, muito menos, os
professores.
Quem
ganha, mesmo, com isso tudo são as tiranias de toda e qualquer estirpe e, nesse
caso, da tirania que é defendida por aqueles que advogam em favor dessa
bajulação pedagógica farsesca que, por sua própria natureza, não gesta
indivíduos autônomos, mas sim, fomenta a produção duma turba barulhenta formada
por autômatos que segue unicamente os seus instintos e impulsos sutilmente
manipulados por aqueles que se dispõe a massagear o ego desta galera,
reduzindo-os a uma reles massa de manobra ao mesmo tempo em que os leva a crer
que estariam agindo como bons cidadãos críticos. E coloca crítico nisso.
Fim.
Hora do café.
Escrevinhado por
Dartagnan da Silva Zanela, em 15 de abril de 2019.
Natalício de Leonardo Da
Vinvi e de Émile Durkheim.
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