O CARINHA QUE NÃO FALAVA JAVANÊS
O mundo de hoje é um trem muito
do esquisito mesmo. Quer dizer, não o mundo, a gente mesmo acabou ficando
assim, desse jeitão meio esquisito.
Entre as muitas esquisitices que
tomam conta das páginas da vida contemporânea, uma que me chama a atenção é a
displicência com que muitíssimas pessoas afirmam não entenderem nada do que leem
e muito menos algo daquilo que ouvem.
E afirmam isso com certa soberba,
diga-se de passagem, dizendo: “Hehehehehe! Não entendi nada do ele quis dizer”.
Como se isso fosse algum tipo de vantagem evolutiva ou algo que similar.
Nos dias atuais, literalmente, fazer
pouco caso do conhecimento tornou-se motivo de orgulho. Pior. Ao que parece, ser
estulto [diplomado e registrado] tornou-se um novo tipo de argumento de autoridade.
Isso mesmo. Se não entendo, se
desconheço, ou não existe ou não é importante e ponto final.
Chega ser engraçada a cara de
espanto que alguns indivíduos fazem quando alguém diz uma palavra que eles
desconhecem e, por isso, fazem aquela carinha de afetado e ignoram por completo
o que está sendo comunicado.
Pode-se dizer que, ao seu modo,
estariam atualizando o cogito cartesiano, dizendo para si mesmos: não entendo,
logo sou apenas isso.
Dá-se a impressão de que estão
ouvindo uma língua estrangeira. Não. Corrijo-me: parece, pela cara feita, que estão
ouvindo uma língua morta, ou algo similar.
Sim, a cara feita pode ser essa
que você está imaginando, mas a língua falada é a mesma que certa feita foi
utilizada por Camões e Vieira que, diante da quadra nada alvissareira em que
vivemos, realmente parece estar se tornando uma língua tão morta quanto o
latim, ou tão distante de nós quanto o javanês.
Por essas e outras que Confúcio
sabia muito bem o que estava dizendo quando afirmava que a primeira coisa que
deveríamos fazer, para endireitar a vida numa sociedade, seria retificar as
palavras. Compreender o que está sendo dito, para sabermos e o que está acontecendo
e, consequentemente, fazermos o que é necessário da forma mais eficaz e efetiva
possível.
Enfim, o velho sabia das coisas e
nós, muitas das vezes, não sabemos nem o que estamos dizendo. Quem o diga o que
estamos fazendo.
Dartagnan da Silva
Zanela,
09 de maio de 2019.
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