ENTREGANDO OS BETES


Reminiscência. Tudo acaba sendo, cedo ou tarde, apenas isso: uma reminiscência. Das inúmeras que guardo nos armários e prateleiras de minha empoeirada memória há algumas que, vez por outra, acabam saindo das sombras onde estavam bem guardadas para banhar-se, faceiras da vida, na luz do presente.


Danadas. Quando fazem isso acabam sempre por me arrastar para o palco do reviver interior, onde me vejo envolto de momentos a muito vividos e que, ao seu modo, suscitam em mim algumas reflexões, muitas delas que nada tem que ver com a lembrança que abusadamente se espraia diante de minha alma, mas que, sou franco em dizer: são-me muito úteis.

Algumas vezes tenho a impressão de que essas coisinhas fora de suas caixinhas tem vida própria e, duma maneira um tanto que imprópria, dão aquele apertão em minhas feridas pustulentas que a muito deixei de relar, porque são doloridas, mas as lembranças, “sacumé”, lá estão para me chamar a atenção para os mil e um defeitos e inutilidades que carrego como sendo uma marca indelével da minha personalidade e que, por isso mesmo, devem ser encarados de frente, por meio de uma humilhante confissão perante o silente tribunal da minha atordoada consciência.

Situação essa que, ao seu modo, é arranjada pelas figurinhas amareladas que pululam no meu álbum de lembranças.

Humilhante e, por isso mesmo, algo necessário para que eu possa fazer um certo acerto de conta com meu passado para corrigir e, quem sabe, melhorar o indócil traste que sou ainda no momento presente; esperando, se possível for, não ser mais esse trem fuçado para todo o sempre.

Acho difícil que isso ocorra, mas, como diz o ditado: a esperança é a última que morre. É. Mas a primeira que entrega os betes.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

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