DE LÁ PRA CÁ



A vida é Drurys, o mundo dá vodkas; cerveja só e Campari as coisas. Não sei se você sabe, imagino que saiba, que em 1922 comemorou-se os cem anos da independência do nosso triste país. Tinha de tudo: desfiles cívicos, festas, publicações, cartazes, discursos e, em meio aos festejos, discutia-se os rumos que o Brasil deveria tomar para se tornar uma estrela de destaque em meio as constelações das grandes nações.

Um dos temas que se colocava na mesa dos debates era se o nosso país deveria ou não adotar uma ditadura. Isso mesmo: uma ditadura. Dentre as intervenções que clamavam por isso, temos um discurso que fora feito por Gilberto Amado na Câmara dos deputados que causou um baita estardalhaço na época.

Pois é. Passaram-se os anos e, como todos nós sabemos, de lá pra cá degustamos o cálice da ditadura do Estado Novo e do pós 64 e, cá estamos no século XXI, próximos do bicentenário da independência desta choldra que tanto amamos e vejam só como o mundo dá vodkas: aqui estamos mais uma vez discutindo a dita-dura. Hoje parla-se sobre a necessidade de evitar ou não uma ditadura, porém, duma forma bem dissimulada, diga-se de passagem. Tenta-se dissimular, mas a verve totalitária à esquerda e o timo autoritário à destra estão bem à vista de quem quiser ver.

Detalhe importante: a tigrada que mais sonha com uma ditadura é justamente aquela que se esconde sob os andrajos de discursos furibundos onde afirmam enfaticamente que eles - os autoproclamados tolerantes e democráticos - estão “lutando” para defender as tais “instituições”, declarando, em alto e bom tom, que são favoráveis às bandeiras “pró-democracia” e contra as “fake News”, seja lá o que isso queira dizer. Do outro lado temos um punhado de viúvas do AI-5 que não cansam de dar os seus chiliques.

Na verdade, é sempre mais ou menos assim. Não há um único tirano na face da terra, não há uma única multidão militante nesse quadrante da galáxia, que não tenha o seu coração todinho tomado por boas intenções, querendo combater um suposto mal maior recorrendo ao uso dum hipotético mal menor em nome dum vago bem absoluto.

Parêntese: isso sem falar nos bonitões togados que querem dar uma de Voldemort e calar todo mundo num passe de mágica para salvaguardar as tais “instituições demo...cráticas”. Fecha parêntese.

São praticamente cem anos da mesma lenga-lenga; com uma roupagem meio diferentona, mas a mesma lenga-lenga que de certa forma não tem cura, tendo em vista que ninguém, seja a bombordo ou a estibordo, está disposto a se emendar e fazer um mea-culpa.

Enfim, a vida é Drurys mesmo, o mundo dá vodkas, cerveja só e Campari as coisas, todas elas e vejam só onde chegamos, juntos, misturados e polarizados. É. Não é à toa que estamos tendo tantas e tantas dores de cabeça.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

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