ENTRE O RISO E O CHORO
Não
dou muito valor para nenhum tipo de vitimismos, não importa de onde venha o
choro. Não dou trela nem mesmo para o meu próprio chororô que, uma vez ou
outra, tenta assaltar minha alma e levar algo de mim. Digo isso não por
maldade, nem pra fazer pose de durão, longe disso, tendo em vista que sou louco
de chorão.
Falo
sobre esse espinhoso tema porque no mundo atual grande parte dos lamentos tem
uma certa aura de teatralidade. Isso mesmo. Teatralidade. Já repararam nisso?
Todo mundo, que não vive imerso no cálice das ideologias, e que não é possuído
pelos cacoetes mentais politicamente corretíssimo, reconhece com relativa
facilidade a diferença que há entre uma dor sentida e uma encenação midiática
dolorosa.
Aprendi
isso, faz tempo, com Dona Yolanda e com a Dona Tomazina e, frequentemente,
tenho matutado muito sobre isso nos faxinais silentes de minha alma, com meus
alfarrábios, junto ao chão bruto do meu rancho.
Por
isso prefiro os memes. Explico-me: o riso, como nos ensina Carlos Heitor Cony,
na maioria das vezes é espontâneo e fala muito mais daquilo que há no coração
humano do que as lágrimas do mundo contemporâneo. Aliás, quem está com raiva e
rancor no coração dificilmente consegue encontrar graça num gracejo, tendo em
vista que é muito mais difícil dissimilar uma gargalhada gostosa que encenar um
pranto fingido.
E
tem outra. Essas pobres almas acabam, inevitavelmente, projetando seu amargor
sobre humor e aí, o que acabemos por ter, é somente aquele azedume
politicamente correto que todos nós conhecemos muito bem.
E o
trem fica pior ainda quando tentam fazer uma anedota porque, quanto fazem,
acaba saindo aqueles troços que são maquinados simplesmente para chocar, não
para fazer rir.
Não
estou dizendo que as lágrimas não tem valor e que a dor sofrida deveria ser
menosprezada. Nada disso.
O
que digo é que essa chusma de almas inflamadas pelo politicamente correto, de
tanto instrumentalizar ideologicamente o sofrimento humano, acabaram por
banalizar o real valor de um coração apertado pela dor.
De
mais a mais, penso que seja importante lembrarmos que todas as hostes
totalitárias que flagelaram o século XX, começaram sua, como direi, “carreira”,
com aquela choradeira artificiosa de vítimas da história, do mundo, de tudo e
de todos, bradando aos quatro ventos que eram perseguidos e assim por diante e,
quando os tempos estavam maduros, as lágrimas cênicas davam lugar para
agressões verbais, morais, psíquicas, físicas e, tudo isso era feito e
devidamente justificado por sua midiática condição de vítima e, catapimba,
tínhamos todos os caminhos abertos para a implantação dum regime totalitário.
É.
Quando voltamos nossos olhos para os passos iniciais do fascismo, do
nacional-socialismo (nazismo) e dos mais variados matizes socialistas,
encontramos invariavelmente pinceladas similares, com variados tons, da mesma
triste gravura.
Não
há dúvida alguma que todos aqueles que sofrem devem ser consolados, como
também, penso eu, que não há nenhuma dúvida de que a instrumentalização
política do sofrimento não conforta o coração da alma sofredora, principalmente
quando o grito de dor acaba sendo sufocado pelos ecos midiáticos de um projeto
totalitário de poder.
Escrevinhado
por Dartagnan da Silva Zanela
e-mail:
dartagnanzanela@gmail.com
blog:
arquimedico.blogspot.com
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