REFLEXÕES COM CHIMARRÃO
Se eu fosse um artista e me pedissem para esculpir uma estátua para representar a figura dum pensador, sem dúvida alguma essa seria a escultura dum sexagenário sentado numa caixa de lenha, bem do ladinho dum fogão, calçando paragatas e de pernas cruzadas com uma cuia de mate nas mãos, chimarreando, com um olhar ao mesmo tempo sereno e distante. Seria assim. E, imagino eu, que ele estaria matutando a respeito de entreveros mil, matutadas essas que seriam semelhantes as que seguem escrevinhadas abaixo:
[ii]
Dum modo
geral os governantes compreendem melhor as razões que movem as multidões do que
o próprio povo. Doutra parte, também seria verdade dizer que muitas vezes o povo conhece
melhor as motivações subjacentes aos atos dos governantes e dos líderes políticos
do que eles próprios. Entre essas duas ignorâncias é que reside toda a trama
que dá forma as tragédias e comédias nossas de cada dia.
[iii]
Os aplausos
das multidões e bem como as honrarias desse mundo não valem um peido. Ambas
tentam parecer valer algo, como tentam, mas, quanto mais pompa é colocada em
seu entorno, quanto mais purpurina é jogada sobre essas tranqueiras, mais
evidente tona-se a total e completa falta de valor delas, apesar do elevado preço
que cobram de qualquer um que as deseje.
[iv]
Todas as
épocas têm seus falsos sábios para idolatrar e estes estão em todos os cantos,
oferecendo para todos os mais variados conselhos furados como se esses fossem
um néctar apolíneo descido diretamente dos céus. É verdade também que em todos
os tempos tivemos pessoas que estavam à procura desses conselhos, pessoas essas
que integravam as mais variadas multidões histéricas e isso, infelizmente, não
é diferente hoje e, possivelmente, não será nos amanhãs que estão por vir.
Agora, se tais aconselhamentos fazem bem ou mal, depende, por certo, da forma como
consumimos esses quitutes, da maneira como nós acolhemos esses pitacos em
nossa vida. E que a verdade seja dita: na maioria dos casos o fim desse tipo de
história não é nem um pouco bom. Não por culpa do conselho. A culpa, na maioria das vezes, é nossa mesmo.
[v]
O problema
não é tanto donde obtemos um conselho; também não é uma encrenca tão grande se esse é
bom ou ruim. O que realmente interessa é o que nós queremos com o auxílio de um
ditame. É nisso que reside toda a encrenca que muitas vezes deforma nossa vida
e desnorteia, nossas decisões.
[vi]
Os homens trilham os mesmos caminhos. Sempre trilharam. Todos nós, apesar de vivermos dramas tão distintos e circunstâncias específicas. Não há exceção para essa regra. E, fazemos isso, desde aurora dos tempos; e continuaremos a fazê-lo até o crepúsculo dos séculos. Cônscios dessa obviedade, o que nos difere uns dos outros é como atravessamos esses carreiros tortuosos da vida; principalmente, como encaramos essa nossa marcha por esse vale de lágrimas. E esse cadinho de coisas que cada um de nós faz nessa jornada acaba fazendo uma tremenda diferença na construção de nosso caráter. E essa diferença, no frigir dos ovos, é o que somos com nossas grandezas e/ou miudezas.
Escrevinhado
por Dartagnan da Silva Zanela, em 07 de março de 2020, dia de Santa Perpétua e
Santa Felicidade.
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