PEDRAS, PEDRINHAS E PEDREGULHOS
Dizem por esse
mundão de meu Deus que nós, brasileiros, gostamos muito de papagaiar. Não sei
se isso é uma caricatura de nossa figura ou não e, pra ser bem sincero, não
esquento a moringa com isso não.
O que considero
realmente importante é saber se o que estamos parlando aqui e acolá é expressão
do nosso esforço sincero para conhecer a realidade ou apenas uma reles opinião.
Podemos caracterizar
uma opinião, e apontar em que ela se diferencia do dito cujo do conhecimento,
de inúmeras formas. A que considero mais interessante e profícua é a que nos é
apresentada por José Ortega y Gasset, quando esse nos diz que a opinião seria
um estranho que nos habita [1]. Francamente, não conheço analogia melhor que
essa. Mesmo assim, falemos mais um pouco a respeito desse ponto.
Uma opinião,
como todos nós sabemos, seria simplesmente um saber superficial sobre algo. Tal
superficialidade, em muito se deve ao fato de que nós, muitas vezes, nos
contentamos tão somente com uma impressão vaga sobre certos assuntos e, nos satisfizemos
com isso porque, no fundo, não estamos interessados em realmente conhecer
certas coisas com um mínimo de profundidade. Ou seja: nesse caso, o pouco nos
basta para falarmos pelos cotovelos.
Entre as muitas
razões que poderíamos indicar para que a sanha opinativa se faça tão presente
entre nós e, é claro, em nós, gostaríamos de destacar uma que, penso eu, tem um
peso bastante significativo nesse angu. Essa, no caso, seria o desassossego de
nossa alma, a inquietude que hoje é tão fomentada em nós através dos mais
variados meios [2].
Tal inquietude,
invariavelmente vai tolhendo a virtude da paciência, tão necessária para o
aprendizado de qualquer coisa. Por isso temos pressa, muita pressa para
apresentarmos no tribunal de nossa tão maculada consciência, uma resposta
minimamente convincente, agradável ao nosso ego, que nos dê uma sensação tola
de segurança, para que possamos, perante as janelas virtuais do mundo, dizer o
que pensamos a respeito de algo, mesmo que nunca tenhamos devidamente pensado
sobre o assunto.
Isso é uma
opinião. Um dito impensado. Um ponto de vista que nada vê além daquilo que nossa
pressa e vaidade permitem. É isso.
Agora, conhecer
são outros quinhentos. Primeiramente, temos que ter paciência, porque, para
aprofundarmos qualquer ponto de vista superficial que nos chega é indispensável
que demandemos algum tempo para isso. Tempo e esforço. Muito esforço, porque na
jornada pela procura sincera pela verdade podemos errar, e errar feio. Isso faz
parte das paradas e, por isso, a tal da paciência e da humildade são tão
necessárias para que a perseverança cumpra sua parte em nos auxiliar nessa
procura [3].
E é nisso,
caríssimo leitor, que o conhecer fundamentalmente difere do opinar. No segundo,
o que temos presente em nossa alma é a ânsia por querer dizer algo, mesmo que
não tenhamos nada de significativo pra falar; no caso caso, vemos presente em
nosso coração uma ânsia por querer saber algo, pouco importando se teremos a
possibilidade de contar isso para alguém [4].
Todo aquele que
procura conhecer alguma coisa é alguém similar a um escultor que toma uma rocha
em suas mãos e laboriosamente vai transformando-a numa bela estátua e, ao
final, quando lhe perguntam como fez aquela lindeza, ele, humildemente, diz que
não a fez, mas que a encontrou, e que seu trabalho foi apenas o de retirar as
arestas que bloqueavam e atrapalhavam a nossa percepção.
O opinador, por
sua deixa, não procura uma rocha. Não. O esquema dele é tão só e simplesmente
catar uma e outra pedrinha aqui e acolá para poder jogá-las nos outros nas horas
de bobeira sem responsabilidade alguma.
Enfim, a
diferença que há entre ter algo para dizer e meramente querer falar algo é
muito sutil, mas substancial. Diferença essa que facilmente é ignorada por nós.
E é ignorada por pura vaidade.
Escrevinhado
por Dartagnan da Silva Zanela, em 12 de março de 2020, dia de Santa Josefina e
Santo Inocêncio.
__________
[1] GASSET, José
Ortega y. Rebelião das Massas.
Disponível na internet: http://ebookbrasil.org/
[2] MERTON,
Thomas. Místicos e mestres do zen.
São Paulo: Martins Fontes, 2006.
[3] ROSA,
Antônio Donato Paulo. A educação segundo
a Filosofia Perene. (2000) Disponível na internet: http://cristianimo.org.br/
[4] CARVALHO,
Olavo de. Ética da vida intelectual.
Aula do COF ministrada em 06/06/2009. Disponível na internet: http://seminariodefilosofia.org/
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