DIÁRIO DOS CONFINS # 002



A crença em uma utopia, pouco importando qual seja ela, é um trem pra lá de perigoso, pois essas tranqueiras acabam sempre, ao mesmo tempo, libertando e ocultando, com belas imagens, os piores monstros que habitam na alma humana. De mais a mais, o mal raramente é realizado com base numa justificativa vil. Em regra, ele sempre é perpetrado em nome dos mais elevados ideais. Sempre. Desde os genocídios e democídios que aterrorizaram o século XX, até a roubalheira comuno-petista perpetrada recentemente em nosso triste país, tudo isso foi realizado sob o augúrio das mais belas promessas utópicas. Por isso, desconfiemos das utopias, de todas elas, sem nenhuma exceção.

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Tem muita gente, muita gente mesmo, que deve pensar que Deus é alguma espécie de pop star. Só pode. Basta começar a reza que o abençoado já quer bater palminha, fazer uma coreografia, uma dancinha coreografada, entre outras coisinhas fofas. Não estou dizendo que o caboclo não pode fazer isso. Não sou ninguém na ordem do dia para proibir alguém de fazer alguma coisa. Entretanto, lhes digo uma coisa: tais atitudes, fruto duma criatividade selvagem, durante a celebração duma Santa Missa, não são nem um pouco recomendadas. Não são recomendadas, mas, infelizmente, neste mundo caótico em que vivemos, tem sido a regra. Não é à toa que na maioria das vezes a Missa acabe se parecendo muito mais com uma festinha entre amigos do que a celebração do augusto sacrifício [incruento] de Nosso Senhor Jesus Cristo no alto do monte Calvário. São tantos os abusos cometidos que, a impressão que se tem é que se perdeu a fé no que realmente é uma Santa Missa.

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O mundo atual tem muitas esquisitices. Muitas mesmo. Uma delas é a seguinte: para as pessoas chiques, diplomadas e críticas, religião é um assunto de foro privado, como se o saber religioso fosse um conhecimento de segunda categoria e que não teria legitimidade alguma. Agora, quando o assunto é sexualidade, identidades fluídas e similares, aí sim se pode apresentar isso em público desde que, é claro, cada um esteja em seu devido e imaculado “lugar de fala”. Ou seja: não se pode parlar nada sobre um determinado ponto de vista se não estivermos na posição [favorável] desse. Trocando em miúdos: vagina, pênis e fiote, enquanto parque de diversão para adultos, é algo intocável por ser susceptível a todo tipo de toque; já o cristianismo, pode ser enxovalhado e banido do cenário público, devido a sua sacralidade. Ou seja: as fantasias sexuais, no mundo contemporâneo, para o degradado e hedonista homem moderno, são sagradas, ocupando o centro de suas preocupações. Por isso, Cristo, o Verbo divino encarnado, não recebe a devida atenção do modernoso homem contemporâneo.

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A excessiva preocupação com números estatisticamente bonitinhos, que negam a realidade dos fatos, apenas perverte a educação. Detalhe: há décadas que isso vem acontecendo. Décadas. Pelo menos, desde os anos noventa e, se continuarmos por essa vereda, o sistema educacional continuará a parir boleiras e mais boleiras de analfabetos funcionais. Infelizmente, isso não é gorar. São simplesmente os fatos.

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Todos nós temos nossas limitações. Todos. Uns mais, outros menos, mas raros são aqueles que podem bater no peito e dizer que tiveram uma formação exímia. Por isso, penso e digo, com franqueza, que é mais do que urgente que cada um de nós procure rastrear e identificar suas limitações advindas de sua [de]formação adquirida para, com esmero, labutar para corrigi-las. Quanto as minhas, digo-lhes que, a duras penas, as identifiquei e estou lavorando contra elas a pouco mais de duas décadas e, creio eu, que continuarei por muito e muito tempo nessa empreitada, haja vista que somos, enquanto humanos, uma longa obra em constante construção e acabamento. Somente taperas abandonadas podem ser consideradas uma obra pronta e acabada. E, imagino eu, que esse não o seu caso, não é mesmo?

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Há aqueles que conhecem muito bem as leis; há, também, doutos que tem um profundo conhecimento da jurisprudência; há outros que conhecem indivíduos de grande influência; mas há aqueles que conhecem as pessoas certas e esses, com o perdão da palavra, são uns lazarentos perigosíssimos.

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O ódio é uma merda mesmo. Principalmente se os caiporas odeiam a mesma pessoa. Quando isso acontece, os tongos acabam tendo a impressão de que têm algum afeto um pelo outro, quando, na verdade, a única coisa que há entre eles é a intenção de instrumentalizar-se mutuamente para a realização momentânea dum fim em comum. E isso, meu caro, é algo realmente miserável em termos humanos.

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Não é só de pão que vive o homem. Sim, isso é verdade. Mas não é de qualquer palavrório oco e mundano que ele realmente viverá. E isso também é verdade. É a palavra de Cristo que vivifica. Não a minha. Nem a sua.

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Lembrar é preciso: a palavra cão não morde; o vocábulo pão não alimenta; a expressão empoderamento não defende, nem protege; o termo protagonismo não garante autonomia, nem fortalece o caráter e, por fim, horizontalidade, não é sinônimo de equidade nem de civilidade.

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Palavras podem tanto evocar realidades quanto ocultá-las. Tudo depende da amplitude de nossa alma. Mentes estreitas sempre acabam caindo na ilusão tacanha de que meia dúzia de jargões apreendidos levianamente, e repetidos mecanicamente até a exaustão, darão uma visão clarividente da realidade, similar a um truque de mágica, onde basta dizer as palavras místicas certas para que tudo, ao final, aconteça. Porém, vale lembrar que espetáculo não é sinônimo de explicação, nem de entendimento. Não mesmo.

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Tem um monte de caboclos por aí que adoram usar a palavra dialética para dar um ar pomposo aos seus devaneios ideológicos; porém, o pobre coitado é incapaz de articular e lidar dialeticamente com as suas incongruências.

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O politicamente correto é o mais eficaz sistema de censura que já foi concebido. No princípio o sujeito é intimidado sutilmente a não dizer certas coisas que ele pensa; com o passar do tempo ele acaba se policiando para não dizer o que está pensando e, finalmente, o infeliz estará se policiando, se sentindo constrangido, e se punindo, por estar pensando determinadas coisas. Ora, meu caro Watson, até o momento não se inventou nada tão maquiavelicamente eficaz quanto isso.

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Dizer uma dura verdade para os outros é uma tarefa nem um pouco confortável, porém, muitas vezes é necessário que tenhamos coragem para fazê-lo. Agora, muito mais espinhoso e complicado que isso é termos de dizer uma verdade sobre nós para nós mesmos; porém, muitíssimas vezes, é imprescindível que tenhamos humildade para proclama-la no altar silente de nossa consciência.

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O grande problema não é dizer a verdade. A grande encrenca é dizer a verdade com as palavras apropriadas, na hora certa e no tom propício. Isso sim, meu amigo, é que são outros quinhentos.

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As disputas políticas são muito parecidas com as disputas entre mafiosos, principalmente a nível local. Não. Não estou dizendo que os homens públicos sejam criminosos. Não é isso. O que digo é que as relações políticas em nível local são fortemente determinadas pela influência das grandes famílias que, literalmente, são verdadeiros clãs que se organizam e se articulam para disputar e tomar o poder. Basta lembrar que, dum modo geral, as pessoas nos pleitos eleitorais municipais se identificam muito mais com os sobrenomes dos clãs do que com as legendas partidárias e isso, meu caro, é algo que a muito fora constatado, e devidamente explicado, por figuras como Joaquim Nabuco, Oliveira Vianna, José Osvaldo de Meira Pena, entre outros caboclos do balacobaco.

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O jogo político é similar a uma cama de gato. Se o caboclo puxar o fio num determinado ponto, a trama toda se desfaz.

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A memória pode até ser curta, mas as lembranças, todas elas, ficam; especialmente as mais dolorosas.

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O analfabeto funcional, produto típico do sistema educacional vigente nessas terras de Pindorama, seria um infeliz mais ou menos alfabetizado ou um pobre diabo que ficou mais ou menos analfabeto?

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Eis o resumo de nossa encrenca existencial: a verdade espera o ônibus para chegar até o altar da nossa consciência, enquanto a alienação segue pro mesmo rumo de taxi e a demência tranquilamente pede um uber.

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Diga a verdade apenas para quem precisa e quer ouvi-la. Para os idiotas seja apenas simpático e minta para não magoá-los. É. Verdade. Isso é o mais puro cinismo. Bem, podemos agir doutra forma: podemos ser amáveis e lhes dizer a verdade para, quem sabe, despertá-los do torpor de sua idiotia, mas não esperemos gentileza e gratidão da parte do infeliz por esse ato benemérito.


Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela, diretamente Do Fundo da Grota, entre os dias 04 e 09 de dezembro de 2019.

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