A GRANDE CARÊNCIA DO MUNDO
O grande problema do mundo
moderno é a falta de oração, diz o Santo Padre Pio de Pietrelcina; porque, como ensina Santa
Teresa D’Ávila, todo aquele que abandona o caminho da oração acaba por ouvir os
sussurros do inimigo e termina se desviando Daquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida.
Vale lembrar que o que os dois
santos nos advertem não é para a necessidade da prática meramente externa e mecânica da
oração, algo que qualquer um é capaz de fazer por mera conveniência social ou
por encontrar nisso certo conforto psicológico.
Aliás, os dois tipos de atitude,
aludidas acima, são muito bem retratadas pela cultura popular. A primeira vê-se
retratada na imagem dos chamados “papa-hóstia” e a segunda na figura dos sem vergonha [e similares] que fazem promessas mil após terem feito alguma bestagem daquelas
graúdas para se sentirem bem.
Lembro, em tempo, que não estou
julgando a fé dessas pessoas, pois não sou ninguém, absolutamente ninguém, na
ordem do dia para alçar essa posição. Estou apenas, como de costume,
apresentando um retrato imperfeito de realidades mais que imperfeitas para convidar
os amigos leitores para refletir sobre um tema que, pessoalmente, considero de
suma importância. Agora, se a irritação epidérmica é a única reação possível, o
que podermos fazer, não é mesmo? Vendo pelo lado positivo, já é um começo. é sinal de que algo foi cutucado no
âmago da alma do infeliz que o incomodou.
E, sobre isso, Santo Afonso de
Ligório dizia, insistentemente, que devemos, em nossa oração, tomar consciência
do quão frágil somos, do quão débil é nossa humana condição e que, por isso,
somos desse jeitão, incapazes de fazer o bem sem o auxílio da Graça divina.
É
isso. Incapazes de realizar o bem devido ao dito cujo do pecado original que
marca o nosso coração.
Sim, todos sabem que quando Adão
e Eva comeram do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal o leite azedou
entre o gênero humano e o Altíssimo, mas exatamente o que significam as
tentadoras palavras ditas pela serpente que nos levaram a queda?
A vil criatura disse a Eva que se
ela e Adão comecem do fruto seriam como deuses. Se eles comecem do fruto da
árvore do conhecimento do bem e do mal seriam como divindades. Caceta. O que
isso quer dizer? Que Adão e Eva não conheciam o bem e o mal? Não. Que eles não
tinham consciência disso? Também não. Se assim o fosse nós seríamos apenas
bichinhos e não feitos a imagem e semelhança de Deus.
Quando Adão e Eva comeram do dito
fruto da referida árvore eles passaram a conhecer o bem e o mal como deuses. E o
que isso quer dizer? Antes deles caírem em tentação, eles sabiam o que era algo
bom e o que seria algo mal. Porém, após o ato de desobediência, eles e nós,
como consequência, passamos a conhecer o bem e o mal como deuses, ou seja, a
dizer o que nos agrada e desejamos como sendo “o bem” e, a afirmar que tudo o
que nos desagrada como sendo “o mal”. Passamos a criar leis e normas que consideramos mais importantes e valiosas que a Lei divina.
E é aí que reside toda a treta. Não
somos deuses. Fomos feitos a imagem e semelhança de Deus, mas não somos Ele. Por
isso fazemos tantas confusões, cometemos tantos equívocos e fomentamos tantas
tragédias no correr da história humana, acreditando, piamente, que estamos
lavorando em nome dum “bem maior”, mesmo que, por soberba, não mais sejamos
capazes de reconhecer uma obviedade ululante.
Um exemplo escandaloso disso é a
cultura da morte que impera em muitas consciências na atualidade. Outro são as ideologias totalitárias dum modo geral.
E isso tudo, caríssimo, é fruto
da falta de oração. Da falta de dobrar os joelhos. Ou Adão e Eva se ajoelharam e
rezaram pedindo o conselho de Deus antes de tascar uma dentada no dito cujo do
fruto?
São João D’Ávila nos adverte que
a soberba que habita nosso coração nos convida a confiarmos excessivamente em
nossos maculados juízos, fazendo pouco caso da importância do conselho que pode
ser semeado em nossa consciência por intermédio da oração onde, humildemente,
nos colocamos diante de Deus, dizendo: “Velho do céu! Me ajuda a não fazer mais
uma cagada em minha porca vida!”
Pois é. Mas nós nos achamos o gás
da coca. Somos diplomados, informatizados, descolados, engajados, criticamente
críticos e, por isso, fazemos olhinhos de peixe morto e biquinho de nojo quando
alguém ousa nos dizer que o problema do mundo, que o nosso problema, é a falta
de oração.
Seria interessante se, antes de
iniciarmos nosso dia, de realizarmos nossas tarefas, de tomarmos uma decisão,
por pequena que seja, procurássemos, interiormente, fazer uma pequena e singela
oração.
A prática da oração nos convida a
sermos mais humildes, nos ensinando a reconhecermos que não somos o cume da
realidade e, consequentemente, tal prática, acaba nos tornando mais realistas e,
por isso, um pouco mais sensatos e, porque não, mais atuantes.
Isso mesmo. São Tomás de Aquino
nos ensina que devemos ordenar as nossas orações de acordo com a importância
dos bens que suplicamos a Deus. Ou seja: que devemos, sempre, colocar os bens espirituais
em primeiríssimo lugar. E ele nos admoesta a isso porque os bens espirituais
são o alicerce da existência. Lembremos: não é só de pão que vive o homem. Sem esses bens espirituais, tudo acaba caindo num rasteiro
imanentismo, restringindo a realidade a uma dimensão unicamente terrena,
colocando no nosso coração a cidade dos homens no lugar da cidade de Deus, como
nos adverte Santo Agostinho.
Sim, o reino de Deus não apenas
foi anunciado, como está em vias de construção no solo de nosso coração. Tudo
começa em nosso coração, mas não termina nele, nem finda aqui neste vale de
lágrimas, como amorosamente nos lembra Santo Antônio de Pádua.
A prática da oração ajuda-nos a
tomarmo-nos cônscios disso e de muito mais.
Enfim, o mundo moderno, como nos
ensina Frithjof Schuon, é a primeira civilização que firmou seus alicerces em
bases materialistas, negando a transcendência da alma e da consciência humana. Bem
provavelmente a modernosa época em que vivemos continuará a fazer isso o que,
necessariamente, não significa que devemos reverberar essa aberração no âmago
de nosso coração.
Nada disso. O tempo urge que transfiguremos
o nosso coração numa humilde manjedoura para receber o Verbo divino encarnado e
assim permitir que Ele faça nova todas as coisas, principalmente a nossa vida. Por isso, oremos.
Feliz Natal e um abençoado 2020
para todos.
Escrevinhado em 24 de
dezembro de 2019, dia de São Charbel.
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