REFLEXÕES NADA ORTODOXA DUM CAIPIRA HETERODOXO
Não conheço ninguém que tenha se
arrependido de ter permitido que seu filho viesse ao mundo, da mesma forma que
não conheço ninguém que não tenha sua consciência atormentada por ter decidido
que seu filho tivesse sua vida arrancada no ventre materno.
[ii]
Todo mundo entende a preciosidade
singular do dom da vida, todos; menos aqueles que defendem a legalização do
assassinato dum inocente no ventre materno.
[iii]
Nas turbulentas horas da história,
quando as colunas da polis estremecem, os homens de geleia deixam suas máscaras
cair, os fanfarrões se empolgam feito urubus, se lambuzando na carniça, e os
tontos acreditam, candidamente, que estão entendendo tudo tintim por tintim.
[iv]
Não há nada mais doentio do que uma
preocupação desmedida com a saúde. É algo tão insensato quanto o total desprezo
a ela.
[v]
Se realmente desejamos entender
algo espinhoso, como uma treta política descomunal, a primeira coisa que, penso
eu, deveríamos fazer, seria nos perguntar sobre o que está, de fato,
acontecendo e em que medida nós desejamos entender o furdunço. Se não admitimos
para nós mesmos que não estamos entendendo o fervo, com um mínimo de clareza,
se não reconhecemos que não tivemos acesso a todas as informações minimamente
necessárias para compreender o rolo, com o perdão da palavra, estaremos tão
somente caminhando, a passos largos, para aquela casa nada engraçada que fica
lá na rua dos tontos, número zero, enquanto acreditamos, sonsamente, que
estamos entendendo tudo criticamente.
[vi]
Um incapaz, sem muitos talentos,
querendo fazer a coisa certa, sem saber exatamente o que está fazendo, é algo
que pode ser muito desastroso. A história está aí para nos ensinar algumas
coisas sobre esse tipo de encrenca. Agora, uma pessoa inteligente, com algum
talento, agindo de modo habilidoso para fazer algo duvidoso, ciente ou não dos
desdobramentos dos seus planos, é um trem que pode ser muito perigoso e, mais
uma vez, a história está aí para nos ensinar alguma coisa sobre isso.
[vii]
Uma instituição será tão boa quanto
as pessoas que dão vida a ela.
[viii]
Não é na calmaria que são forjadas
as grandes almas; é no meio das tormentas que isso é feito. Sejamos os
timoneiros duma nação, ou apenas os barqueiros de nossa porca vida, não é no
remanso que se vive verdadeiramente; é no furdunço mesmo. Por isso, aquilo que
fazemos quando a água começa a bater em nossa bunda, diz muito mais a respeito
do nosso caráter, de nossa personalidade, do que todos os dias gostosamente
vividos na bonança garantida pelo fiar monótono duma pacata rotina.
[ix]
Muita gente está manifestando sua
indignação [criticamente crítica] contra o veto ao projeto de lei que regulamenta
a profissão de historiador e que estabelece os requisitos para seu exercício
(PLS 368/2009). Diante dessa indignação difusa, ocorrem-me algumas perguntas,
dentre elas, destaco essa: será que os indignados, por ventura, leram e
analisaram devidamente o referido projeto de lei - bem como o parecer da AGU a
respeito - e refletiram sobre as possíveis implicações do mesmo? Se sim, tudo
bem. Vida que segue. Caso contrário, penso que seria um bom momento para se
rever essa criticidade epidérmica cultivada com tanto mimo e construída
“laboriosamente” com base em um punhado de memes e uma e outra manchete de
jornal.
Escrevinhado por Dartagnan
da Silva Zanela.
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