APONTAMENTOS QUIXOTESCOS
Um dos grandes
problemas das tretas, que se apresentam como se fossem grandes debates, nas
redes sociais, é que elas instigam tanto contendores como espectadores a
responder tudo na lata, sem pestanejar, de maneira imprudente e leviana, como
se essa troca de farpas virtuais estivesse sendo acompanhada por todas as almas
viventes - e conectadas – deste mundo; como se o resultado dessa peleja fosse o
auge duma espécie de saga épica, similar às aventuras dos “Cavaleiros do
zodíaco”.
Pior. Não são
poucos os que se entregam de corpo e alma na conquista dos fugidios louros
desse tipo vitória de Pirro.
Enfim, “sacumé”,
a vaidade é o que é: uma merda. Ela sempre nos leva a achar boniteza onde há
apenas feiura; e faz isso com uma facilidade que nós não gostamos nem um pouco
de admitir.
[i]
Escutar bem.
Pensa no trem porreta que é saber fazer isso. E, assim o é, porque tal gesto é
uma forma de demonstrar amor ao próximo.
Quem não sabe
escutar, e se recusa aprender isso, apenas atesta por “A” mais “B” que é uma
pobre alma embebida no fétido lodo do pântano do amor próprio que, por sua
deixa, faz qualquer um fechar-se para a voz – suplicante ou não – do semelhante
que está ao seu lado parlando com palavras e gestos.
No mundo atual,
mais, muito mais do que noutras eras, tem-se a impressão de que ninguém quer
realmente ouvir o próximo; porém, todos querem falar e serem ouvidos.
Bem, isso ocorre
por uma razão muito simples: nós desaprendemos a amar, pensando, única e
hipocritamente, na hipotética importância do nosso inchado ego mimado.
Todos querem ser
ouvidos ao mesmo tempo em que ninguém quer atentamente ouvir o outro e, por
isso, ninguém quer servir ao próximo, mas sim, se servir dos outros.
Se não sabemos
ouvir bem e não estamos dispostos a ouvir o outro, nada aprendemos, por sermos
incapazes de nos retirar do centro da nossa atenção para volta-la ao que o
outro está querendo nos dizer.
Resumindo o
entrevero: não saber amar acaba nos tornando pessoas estultas, feito pedra. O
excesso de amor próprio nos deixa burros; fecha a nossa atenção no curral
minimalista dum ego que não enxerga nada, não reconhece nada, que não seja o
seu turvo reflexo.
[ii]
Por inumeráveis
razões, penso que devemos sempre, todo dia, ao invés de repetirmos chorosamente
para nós mesmos o que os outros, de mãos dadas com o tal do sistema, “deveriam”
ter feito por nossa idolatrada pessoinha, poderíamos, sim, perguntar a nós
mesmos o que podemos, e devemos, fazer para sermos pessoas - não digo melhores,
mas, ao menos, um pouquinho mais prestativas. Se fizéssemos isso, com certeza,
nosso pútrido coração seria menos peludo. Bem menos peludo.
Escrevinhado
por Dartagnan da Silva Zanela, entre os dias 02 de fevereiro de 2020, dia de
Festa da Apresentação do Senhor.
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