LAVANDO OS OLHOS COM A ÁGUA DA FONTE
Muitas pessoas - bem intencionadas, diga-se de passagem – procuram valorizar muito os elementos subjetivos em detrimento dos fatores objetivos e, fazem isso, crendo que com essa atitude elas estariam ampliando de forma significativa a liberdade dos indivíduos. Pois é. Ledo engano.
Não existe nada mais arbitrário do
que esse tipo de valoração e, por isso, ela é tão perigosa.
Algo subjetivo tem o seu valor
dentro duma perspectiva particular que, por sua deixa, não precisa necessariamente
ter uma relação direta com o mundo da vida. Basta que seja agradável aos nossos
caprichos.
Perspectiva essa que pode ser
nutrida somente por uma alma isolada, com suas angústias, ou partilhada por um
grupo de pessoas que frequentemente se banqueteia com seus ressentimentos em
comum.
Detalhe importante: a legitimidade de
uma visão subjetiva sobre algo não precisa, necessariamente, ser confirmada pela
substancialidade da realidade; basta que os indivíduos, juntos com a multidão
que comunga do mesmo subjetivismo, digam para si mesmos que o que eles dizem seria
algo sumamente real e que todos aqueles que digam o contrário estariam
alienados.
Inevitavelmente tal atitude leva as
pessoas a mergulharem numa espécie de transe histérico onde elas não mais se
esforçam para encarar os fatos da vida como eles são, mas sim, passam a projetar
sobre os fatos a imagem que é sugerida por aquilo que eles dizem. Ou seja: os
sujeitos projetam sobre a realidade suas fantasias subjetivas e passam a tratar
as pessoas e a encarar a vida a partir dessas imagens fantasiosas.
Quando caímos nesse tipo de
capricho, estamos permitindo que as porteiras para as aventuras destrutivas e totalitárias
sejam abertas de forma escancarada, tendo em vista que as palavras são
reduzidas a meras expressões vazias com um forte poder de encantamento, levando
as almas distraídas a serem possuídas pelas fantasias subjetivas que são sugestionadas
através da evocação e repetição calculada desses mantras ideológicos
pavlovianamente maquinados para nos condicionar a sempre darmos as respostas apropriadas
aos estímulos certos.
Tal condicionamento, realizado através
do uso de palavras de ordem e cacoetes mentais, tão frequente utilizados nos
movimentos de massa, é chamado hoje em dia pela formosa alcunha de
conscientização. Noutras épocas, processos similares a esse, de condicionamento,
recebiam uma alcunha mais precisa: possessão.
Quando voltamos os nossos olhos,
desnudos, para inúmeras manifestações que tomam conta de praças, ruas e vielas
em vários cantos do mundo, onde violência pouca é bobagem, o termo mais apropriado
para descrever o fenômeno não seria “manifestação em prol da democracia”, nem “tomada
de consciência do povo”, mas sim, uma manifestação coletiva de possessão, de
indivíduos possuídos pela fúria cega de uma multidão que age servilmente de
acordo com os comandos promovidos pelo sentido subjetivo e arbitrário de
palavras de ordem e de cacoetes mentais que lhe são sussurrados diuturnamente
em suas atordoadas consciências.
Reverter um quadro como esse não é
uma tarefa fácil, porque para exorcizar as pessoas da ação incansável do íncubo
revolucionário seria necessário confrontar os indivíduos possuídos pela
multidão com a luz da verdade. E confrontá-los continuamente com ela e, mesmo
assim, infelizmente não há garantias de que ao final os indivíduos serão resgatados
da tirania da legião ideológica que se apoderou deles.
Mas lhes digo uma outra coisa: cruzar
os braços frente ao sofrimento dessas pobres almas não as resgatará e, de quebra,
nos condenará a uma das piores pestilências que pode acometer o coração humano:
a covardia moral e o indiferentismo fantasiados de prudência e sofisticação.
Escrevinhado por Dartagnan
da Silva Zanela, em 06 de junho de 2020, dia de São Norberto e de São Marcelino
Champagnat.
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