NARCISO DA DEPRESSÃO
Recentemente, não faz muito,
estava a reler o livro “O Supremo Apedeuta” de Janer Cristaldo. Na verdade não
faz um mês que reli essa sulfúrica obra cujo autor tive a felicidade tê-lo
conhecido pessoalmente.
Isso ocorreu por volta de 2007,
se a safadinha da minha memória não está me traindo. Em 2014 ele veio a falecer.
Fora vitimado por um câncer. Que Deus o tenha, apesar das rusgas que ele
causticamente nutria contra o Altíssimo.
Enfim, noves fora zero, lembro-me
agora do seu tom corrosivo, sem perder a elegância, que tanto admirava em suas
crônicas. Creio que a primeira crônica de sua lavra que li foi no ano de 2000.
À época acompanhava suas escrevinhações no site “Baguete diário”; depois em seu
blog e, mais tarde, através de seus livros.
Mas do que eu estava falando
mesmo? Ah! Sim, do livro que, não faz muito, estava relendo, “O Supremo
Apedeuta”. Neste, como em todos os livros do referido, o autor nos chama a
atenção para aquele fenômeno tão característico das gentes destas plagas: o de
presumir conhecer tudo sem nunca ter se esforçado sinceramente em conhecer
algo.
Infelizmente, em nossa galeria de
excelências republicanas, abundem figuras que brilham por sua orgulhosa
estultice. Por culpa deles? Não somente, mas também e principalmente porque
vemos neles uma forma de justificar o nosso fracasso humano.
Ou seja: se eles são assim,
porque seremos diferentes, não é mesmo? Eis aí, escarrado, o raciocínio do
homem medíocre que impera em nosso tristonho país.
Isso significaria que temos os
governantes que merecemos? Não sei dizer. Deus sabe e, ao que parece, não está
nem um pouco a fim de dizer. O que sei é que todas as nulidades que nos governaram,
e nos governam, se parecem muito conosco, em alguma medida, pouco importando se
sejamos simpáticos a eles ou não.
Podemos dizer, que, ao seu modo,
a nossa republiqueta seria uma espécie de espelho de Narciso trincado. Vemo-nos
refletidos, meio que distorcidos, naqueles que nos governam, e naqueles que
falam e legislam em nosso nome; e, devido à distorção gerada pelos trincados do espelho, acabamos ou amando o que vemos, ou odiando.
Por essas e outras que, em
matéria de política nessas terras de Pindorama, uma baita dose de ceticismo é
indispensável.
É sempre imprescindível que lembremos
que o que temos diante de nossos olhos é a imagem disforme da nossa sociedade
e, consequentemente, de nós mesmos, apresentada por meio dum espelho em cacos
que são as nossas instituições.
Gostemos ou não, somos o que
somos. Desejemos ou não, podemos ser melhores do que a imagem refletida que invade as
nossas vistas.
Provavelmente o velho Janer, se
deita-se suas vistas sobre essas linhas diria: “não dá não Zanela. Somos o que
somos. Não há remédio que dê jeito”.
Confesso que bem provavelmente, e
em certa medida, concordaria com ele. Não por causa dos políticos. Por causa,
sim, de nós mesmos.
Escrevinhado em 05 de
julho de 2019
por Dartagnan da Silva
Zanela.
👍👍
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